25 dezembro 2004

Mensagem 027 - Folha

Folha

Luciano Menezes

Quem sabe eu não acredito mais em nada,
bruxa, gnomo, sapo ou fada.
Nasci folha por opção,
gosto de sentir o vento
me balançar, me percorrer.
Meu desejo é correr chão.
Eu não nasci com raízes
e o cordão que me prende
de voar me impede,
mas tenho movimento
balanço, deixo rastros, faço até sombra.
Com muitos irmãos, pimos, parentes
alguns são flores e outros espinhos
que estão plantados nos caminhos.
Nos sonhos plano alto e quando caio
a realidade me mostra seco,
endurecido, quebradiço,
sem um destino certo:
a lata de lixo, uma chama queimando.
ou enfim o desejo sonhado.
Correr pelo chão ou sendo impedido
pois o vento tão baixo
não tem força não.
Mas quando venta forte
com rodopios eu subo alegre,
me sinto vadio, sou dono de mim.
Aí eu acordo me vejo tão verde
e sei que ainda é cedo pra me desprender
não depende de mim
ser folha é assim.

Mensagem 026 - O Brilho natural das coisas

O Brilho natural das coisas

Luciano Menezes

O brilho natural da purpurina
o piscar das luzes de neon
a difusa beleza da luz negra
o claro riso dos dentes reluzentes
a cortina de fumaça que saía
das tragadas poderosas que se soltam
só sentindo o ar gelado que é gerado
em uma máquina qualquer de criar frio.
Isso é que é viver modernidade
ao som ritmado e tão batido
que aos poucos ensurdece os meus ouvidos
e os deixam insensíveis ao som dos pássaros.
Me soavam natural e eu nem lembrava
como se formava a gota de orvalho
como amanhecia um dia tão nublado
e que a lua aparecia ao entardecer.
Foi preciso faltar a luz pra perceber
lá no alto os muitos vagalumes
que piscavam ao apagar ou se acender
foi sentindo já no corpo uma bruma leve
que resfria como nunca ao amanhecer
foi bebendo uma água lá da fonte
que senti como refresca ao ingerir
muito mais do que em pedra se servida
misturada a muito run e abacaxi
que saudade que me deu da natureza
que há tanto, tanto tempo eu esqueci
só vivendo na moderna idade
na verdade esqueci de tudo aquilo que vivi.

Mensagem 025 - O Verme

O verme

Luciano Menezes

A sola do sapato até tentou
o olhar esperto não se deixou pisar
e escorreu pela terra
deslizou pelo papel
pela mão pela mente
terminou no espaço virtual
tornou-se de fato real
e se mostrou para todos nós
com uma sutileza leve
parasitando se infiltrando
e enfim mostrando
a sua face escrita
e registrada para sempre
calando fundo
no olho do mundo.

Mensagem 024 - Sonho alucinógino

Sonho alucinógeno

Luciano Menezes

Ainda me lembro
do seu beijo diferente
sua língua no meu dente
e eu pensando em minha mãe
que me dizia do seu jeito
temerosa um conselho
não se junte sem que eu veja
pra você não se desiludir
e você me apareceu
sem qualquer rumo ou rota
me levando em boa prosa
e eu também querendo ir
estava só você na sua
testemunha só a lua
que brilhava pra nos distrair
foi gostoso foi nervoso
foi até milacuroso
curou todo nosso trauma
nos mostrou uma nova fauna
que fazia todo mundo rir
Sem destino sem esperança
uma alegria de criança
que nunca via graça em se divertir
Era quebra da innocence
Restaurando a décadence
Uma missa tão satânica
um ritual pra não mais se repetir
Foi uma questão orgânica
que seguiu todo o trâmite
e terminou sem nada mais pra concluir.

Mensagem 023 - Querer

Querer

Luciano Menezes


só quero
só quero sair
só quero sair só
só quero sair
só quero

Quero
quero só
quero só sair
quero só
quero
Sair
sair quero
sair quero só
sair quero
sair

Mensagem 022 - A Dança

Dança

Luciano Menezes

A música, o som, o pensamento
O corpo colado afastado, um momento.
A mão pré-sentindo, conduzindo, seguindo,
os pés se comendo, correndo, evoluindo
O ritmo lento, cadenciado, apressado,
o passo pro lado, a volta, o tranco,
tudo ajustado, sem ser combinado,
até o descanso.
O avanço arrastado, marcado, pulado,
tão cadenciado que até se imagina
como se combina de ser dois em um
sem ter ensaiado.
Sem ensaio geral, com coreografia
que encanta e embeleza
as duplas na vida que às vezes se esbarram
ou criam uma fresta, se estão numa festa
num simples lampejo e ter mais desejo.
Deixar a esperança
o retorno esperado
não ser só lembrança
tão bem compassado
à espera da dança.

Mensagem 021 - Na Lapa II

Na Lapa II

Luciano Menezes

Na praça o frio.
No chão o pé.
A mão na lata
barriga de fome.

O nariz no ar
pulmões decola
na cabeça o sonho
névoa do olhar.

A vida do desejo.
Descansar eu banco
o começo o tombo,
o tropeço a farra.

No carro a moça
da janela a fresta
ao lado a bolsa
na boca o grito.

O sinal fechado
passo corrido
esconder o riso
tudo repartido.

Brilha o poste.
Breu na pedra.
Arma traço
na escuridão
de cacos.

Vingando o céu
pra viver que saco
sua casa a vala.

Mensagem 020 - Na Lapa I

Na Lapa I

Luciano Menezes

Andando na rua cercado me vi
Geraldo, Noel, Satã, Aracy.
Nos arcos, não passava o bonde,
não era sonho, foi um deja vu.
A água abastecia a cidade
e também se fazia ali.
A polícia nem via o cheiro,
o fumo, o álcool, a dança, o mel,
só fazia maldade que gosto de fel.
A turba não se separava,
preto, branco, gays, prostitutas,
meninos, meninas vadias ou não
brincando, cantando ou indo à luta.
Afoxé, reggae, um samba original,
um rock'n roll, um samba de breque,
um partido alto, um samba de raiz
fazendo a moçada dançar tão feliz.
Ah! e ainda tem também o Circo que voa,
A Fundição que apregoa: sou a dona da festa
Tem forró com Asa Branca, tem até japonês,
tem Semente que morre e renasce outra vez,
tem rua calçada, cadeira, tem cama e rua da lama,
tem escada pintada toda azulejada
tem gente sentada e bebendo pra ver
e vibrar com a noite ou pra saudar o dia
que quando se chega ou se anuncia
se prepara bem cedo ou se alumia
pra voltar outra vez e ter tudo de novo
pois a Lapa não pára e encara outro dia.

Mensagem 019 - Mais um fim de semana

Mais um fim de semana

Luciano Menezes 01/out/2004 20:00 h

Passa noite, passa dia,
passa mês, passa ano,
e a vida continua
seguindo seu curso
trazendo seu cheiro
lembrando o desejo
arrastando uma asa.
Nasce o sol,
morre a lua,
a maré sobe,
a maré baixa,
a areia molha,
a areia seca,
o vento sopra,
a calmaria chega,
O perfume inebria,
não sai das narinas,
e o tempo reserva
a hora precisa
da chegada,
da partida,
do encontro afinal.

Mensagem 018 - De Passagem

De Passagem

Luciano Menezes 22/set 20:30 horas

As portas se abrem
As portas se fecham
Por elas entramos
Por elas saímos
Por elas passamos
e vivemos a vida

De Passagem é nome da exposição de Baby Bittencourt no Centro Cultural dos Correios, lindas fotos do interior do prédio

Centro Cultural Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro
Corredor Cultural
20010-900 - Rio de Janeiro - RJ
Telefone: 0XX 21 503-8770
Fax: 0XX 21 503-8107
E-mail: centroculturalrj@correios.com.br

Mensagem 017 - Coisa de Pele

Coisa de Pele

Luciano Menezes

O toque o cheiro o aconchego
está no ar está na terra está no mar
o corpo o desejo o risco arisco
está na vida está na lida sempre corrida
o medo o susto o grito está contido
o sentido o olhar a sensação
só é medida se tem guarida
se vem de dentro se tem saída
se causa enfim uma explosão
o rumo o prumo só se baliza
sempre na vida por nossa mão
que toca que sente que vê que mente
que escorrega desliza atrevida e sente
enroscar contorcer se encostar
pra se lembrar e desejar
sentir de novo e aguardar
o fogo ardente cortar com o dente
sem machucar sem arranhar
ficar marcado na nossa mente
desejo ardente pra nos queimar.

Mensagem 016 - A Mentira

A Mentira

Luciano Menezes

Impossível duvidar
sempre aparece
sem ter tempo
sem ter idade
a verdade
está por aí
a andar com leveza
quem não crê se assusta
não entende a pureza
que se mostra injusta
não esconde a beleza
apenas se expõe
crua dura e real.

15 setembro 2004

Mensagem 015 - Criança

Crianças
Luciano Menezes 06/set/2004 20:30 h
Criança não rima com morte
só lembra brinquedo
esperança
sorte
alegria
Criança usada como vingança
cobrança hoje nostalgia
As imagens eternas e o uso todos os dias
as tornarão comuns frias
Como seria o mundo com elas
A história registrará seus nomes
não suas façanhas
suas manhas
A luta pela liberdade antes que tardia
A prendeu na história
e por todos os dias.

10 maio 2004

Mensagem 014 - O Sorriso de Monalisa

O Sorriso de Mona Lisa



Luciano Menezes 08-05-2004

Nunca me detive na sua expressão
mas seus cabelos compridos me chamam a atenção
Seu sorriso maroto, forçado, fingido
não é o sorriso do seu interior
o seu olhar cínico, crítico e interrogatório
não faz parte da expressão da sua imagem
o seio coberto não tem sensualidade
o fundo da foto, na trela pintada
não mostra mais nada
Por que a pintaram
Porque a expuseram
Quem foi Mona Lisa pra vida de então.
Quem será a Mona Lisa dos dias de hoje ?
Com fotomontagem, pintura eletrônica, colagem
e instalações que criam do nada
Com côres que nunca mais se repetirão.